segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Lançamento do livro "Queimados: imagens de uma cidade em construção"

Queimadenses, de nascimento ou não, lotam a quadra do
Centro Educacional Manuel Pereira à espera do
lançamento do livro "Queimados: imagens
de uma cidade em construção."
 
Nem mesmo a chuva que desabou sobre Queimados, ao fim da tarde de ontem, arrefeceu o ânimo das pessoas que encheram a quadra de esportes do Centro Educacional Manuel Pereira, depositando grande expectativa no lançamento do livro "Queimados: imagens de uma cidade em construção." Para nós, mais do que a expectativa pela publicação do primeiro livro, a emoção de um dever cumprido para com aqueles que nos apoiaram e incentivaram, nessa luta por dar voz e registro às memórias da cidade. Em Queimados, esse desafio se configurou ainda maior, dado o fato de que a cidade ainda não conta com um local específico para guarda e preservação de documentos que pudessem servir como fontes de pesquisa para a escrita da história da cidade. 
Sob essa perspectiva, nesse dia tão especial, trouxemos a público nosso primeiro livro! Ao
Então: vamos aos autógrafos!
longo de quase 200 páginas, um pouco da história local se mescla aos registros fotográficos de pessoas que fizeram e fazem essa história continuamente. Esses registros - cedidos por várias famílias queimadenses e outros tantos garimpados em arquivos públicos e privados da Baixada Fluminense e Rio de Janeiro - foram organizados em três grupos:
nossa terra, nossa gente e nossa luta. No primeiro, encontram-se fotografias que registram a passagem do tempo nos lugares da cidade. Ruas, praças, igrejas, a estação do trem... Um convite à uma viagem no tempo pela cidade que sobrevive nas memórias dos moradores mais antigos. Sob o subtítulo nossa gente, foram agrupados os registros que dão conta das práticas cotidianas que perpassam o viver em Queimados: as festas, o trabalho, o lazer, a religiosidade... Por último, o tópico nossa luta traz imagens que dizem respeito aos protestos em busca de melhorias para Queimados, incluindo-se fotografias que registraram a gênese do movimento emancipacionista.
Convidamos a todos para embarcar nessa viagem conosco e conhecer um pouco mais de nossa história!
Com o livro em mãos.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Lançamento do livro "Queimados - imagens de uma cidade em construção"


É com grande prazer que convidamos vocês para o lançamento do nosso tão aguardado livro "Queimados - imagens de uma cidade em construção"



O livro traz uma coletânea de fotografias, cedidas gentilmente por famílias queimadenses, que registram olhares sobre uma cidade em permanente construção: suas memórias, lugares e práticas que compõem um mosaico da Queimados de hoje e que traduzem a luta cotidiana dos queimadenses contra o esquecimento. As imagens são acompanhadas de texto que visa dar ao leitor um panorama sucinto do desenvolvimento da cidade, mesmo antes da conquista de sua emancipação política, em 1990.
Esperamos todos vocês às 19h do dia 13/12/2014, no Centro Educacional Manuel Pereira, para compartilhar conosco esse momento!

sábado, 6 de setembro de 2014

Seminário Brasileiro de História da Historiografia: pensando as interações possíveis entre memória e ensino de história na cidade

Entre os dias 18 e 21 de agosto de 2014 ocorreu, na Universidade Federal de Ouro Preto - campus Mariana, o 8º Seminário Brasileiro de História da Historiografia, cujo tema dessa edição foi "Variedades do discurso histórico: possibilidades para além do texto." O evento, mais uma vez, oportunizou os debates entre pesquisadores vinculados à diversas instituições do país, como também trouxe contribuições de fora do país, como pudemos conferir por meio das conferências e palestras proferidas pelos professores Hans-Ulrich Gumbrecht (Universidade de Stanford), Hugo Achugar (Diretoria Nacional de Cultura do Uruguai), Jens Andermann (Universidade de Zurique), Antonis Liakos (Universidade de Atenas), Berber Bevernage (Universidade de Gent), Edoardo Tortarolo (Universidade do Piemonte Orientale), Elías José Palti (Universidade Nacional de Quilmes / Universidade Nacional de Buenos Aires) e Stefan Berger (Ruhr-Universidade de Bochum).
A professora Claudia expõe suas reflexões acerca do 
estudo das memórias e possibilidades para o 
ensino de história.
Com trabalho inscrito no Simpósio Temático 16 - Cultura histórica, história local e cidades: questões para a escrita e o ensino da história, coordenado pelos professores Daniel Pinha (UERJ) e Juçara Mello (PUC-Rio), a professora Claudia Costa apresentou sua comunicação, intitulada "Memória, Patrimônio Cultural e Ensino de História: discursos possíveis sobre a cidade de Queimados", na terça-feira, dia 19. O trabalho apresentado é parte das reflexões esboçadas pela pesquisadora ao final de sua dissertação de mestrado, defendida esse ano junto ao Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. No decorrer de sua fala, a professora Claudia destacou os pontos de intersecção identificados entre as memórias queimadenses e as possibilidades de escrita da história dessa cidade, aspectos trabalhados em sua dissertação. Ao ampliar essa perspectiva, a professora Claudia também aponta o potencial educativo das memórias como forma de ampliar os recursos para uma didática da história local. Tal perspectiva alça, para o primeiro plano dos debates, a cidade enquanto espaço de investigação, onde as experiências nela vividas fazem parte de um processo educativo que extrapola os limites das salas de aula ou mesmo da escola. 
Completando esse dia de profícuos debates, as professoras Juçara Melo e Iamara Viana apresentaram os resultados parciais do trabalho implementado junto ao Instituto de Educação Carmela Dutra, em Madureira. Esse trabalho integra o projeto sobre Patrimônio Cultural e Ensino de História, coordenado pela professora Juçara Mello, através do Núcleo de Estudos em Ensino de História e Patrimônio Cultural, que pertence ao Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Esse projeto visa à integração do corpo docente e discente da referida unidade de ensino da rede estadual, promovendo reflexões sobre os significados, reconhecimento, usos e apropriações do Patrimônio Cultural do bairro de Madureira. Fechando a mesa de debates, a pesquisadora Danielle Cavalcante apresentou contribuições para o ensino de história a partir da experiência do Museu de Arte e História Rosa Faria, em Sergipe.
Professoras Iamara e Juçara 
(ambas da PUC-Rio):
projeto sobre Educação e
Patrimônio Cultural
Professoras Iamara e Juçara expõem 
 os resultados parciais, obtidos 
nas ações junto aos professores 
e alunos do I.E. Carmela Dutra.













Os demais dias de simpósio foram igualmente enriquecedores, com a apresentação de trabalhos que levaram em conta as interfaces estabelecidas entre os diversos tipos de objetos e práticas passíveis de patrimonialização e sua dimensão educativa. Por meio desses trabalhos, aguçamos nossa percepção acerca do polêmico tema da patrimonialização cultural, que vem ocupando grande espaço nos debates acadêmicos e não acadêmicos nas últimas décadas. Material ou imaterial, tangível ou intangível, percebemos que as questões que envolvem esse debate estão postas em diversos espaços: nas memórias, nos museus, nos bares, nas imagens...
Apresentação da professora
Beatriz Vieira (UERJ).
Professor Daniel Pinha (UERJ):
trabalho sobre Museu Itinerante
de Manguinhos











Professora Helena Araújo (CAp/UERJ)
aborda "A dimensão educativa do
Museu da Maré."

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Miguel Novaes: Educação Ambiental e desenvolvimento sustentável

No avançar da segunda década do século XXI, multiplicam-se os debates em torno do desenvolvimento sustentável e da criação de programas que deem conta de instituir pilares para a Educação Ambiental. As interações estabelecidas entre homem e natureza passaram a ocupar lugar de destaque no pensamento ocidental já na segunda metade do século passado, motivadas, em parte, pela emergência de movimentos culturais ligados à defesa de direitos civis, políticos e sociais. Os acelerados e inevitáveis processos de urbanização e modernização das cidades também contribuem para o aprofundamento dessas reflexões, na medida em que expõem as tensões entre progresso e degradação ambiental.
Miguel Novaes de Almeida:
diretor presidente da SANEÁGUAS.
Em sintonia com esses debates, entrevistamos hoje, Miguel Novaes de Almeida, diretor presidente da SANEÁGUAS: primeira empresa de saneamento da Baixada Fluminense e uma das quatro maiores do Estado do Rio de Janeiro, instalada e atuante em Queimados há 15 anos. Durante cerca de uma hora de entrevista, Miguel discorreu sobre suas experiências à frente dessa empresa, tecendo os fios de uma história que se interpola à sua própria trajetória de vida na cidade.
Miguel é pai da pequena Dhyulia Peluzio de Almeida, fruto de um sólido casamento de 15 anos com Dona Leila Cristina Peluzio. Ao atender a uma solicitação da família da esposa, Miguel muda-se do Rio de Janeiro para Queimados e a partir de então, trajetórias pessoal e profissional convergiriam, revelando os nexos de afetividade estabelecidos entre o nosso entrevistado e a cidade de Queimados.
Isso posto, Miguel destacou, ainda, as parcerias firmadas entre sua empresa e Prefeituras da Baixada Fluminense, sobretudo com a Prefeitura de Queimados, na realização das obras de saneamento da região. Também mereceu amplo destaque, ao longo de sua fala, o trabalho desenvolvido pela SANEÁGUAS, no âmbito da Educação Ambiental, junto à população local. Sob essa perspectiva, Miguel ressaltou a importância da conscientização popular, acerca dos impactos socioambientais do crescimento experimentado por Queimados, particularmente nas últimas décadas.
Segundo a psicóloga e educadora Isabel Cristina de Moura Carvalho: 
A Educação Ambiental fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura do mundo do ponto de vista ambiental. Dessa forma, estabelece-se como mediação para múltiplas compreensões da experiência do indivíduo e dos coletivos sociais em suas relações com o ambiente (...) [A] Educação Ambiental [atua] como mediadora na construção social de novas sensibilidades e posturas éticas diante do mundo (CARVALHO, 2008)
 Miguel de Novaes no momento em que 
 ressalta a importância do incentivo a 
 ações no campo da educação e da 
 cultura.  
Em sua fala, Miguel Novaes nos permitiu entrever sua concordância com esses pressupostos. Ao afirmar que os investimentos na cultura devem ser priorizados como forma de se atingir um desenvolvimento sustentável, relacionou suas experiências nessa área com a formação adquirida na Maçonaria. Maçom desde 2003, Miguel é, hoje, presidente da Loja Maçônica Akhenaton, em Miguel Couto - Nova Iguaçu. Segundo Miguel, 

O maçom, quando ele entra [para a Maçonaria], ele entra sem preparo nenhum: ele é totalmente uma pedra bruta. Com o tempo, ele é lapidado para ser um grande homem e aí, ensinar [através do exemplo] a outros homens, como deve se comportar perante as leis de Deus (...) para chegar a ser uma pedra polida, um homem de bem... (ALMEIDA, 2014).

Ao usar o processo de lapidação como metáfora para ilustrar a importância de sua associação à Maçonaria, nosso entrevistado aponta o conhecimento como o caminho para o progresso humano. Ao apostar nesse caminho, conjugando-o à sua prática profissional, reafirmou a ideia de que “a educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social” (JACOBI, 2003: 196). Pensar nisso nos convida a refletir um pouco sobre as tensões enfrentadas hoje por uma cidade que se moderniza a cada dia, mas, que no entanto, entende que cidadania é ato continuo de construção e, que sobretudo, perpassa pelo reconhecimento de suas raízes.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Memórias da Emancipação: Carlos Vilela

Carlos de França Vilela: economista. Era Secretário
de Fazenda de Queimados, quando da realização
da entrevista que resultou nesse artigo.
Nascido na cidade de Bom Conselho, estado de Pernambuco, Carlos Vilela veio para o Rio de Janeiro com menos de um ano de idade. Essa história de vida, iniciada há cerca de 50 anos, encontra eco em outras trajetórias de vida de homens e mulheres que, saindo do nordeste, buscaram se estabelecer nos estados do sudeste. Nessa dinâmica, a Baixada Fluminense se insere como local que absorveu um expressivo contingente migratório, que buscava oportunidades de emprego e sobrevivência na Guanabara. A Baixada Fluminense foi, portanto, o cenário onde esses homens e mulheres inscreveram suas trajetórias marcadas pela luta constante por seus direitos.  “Uma história dentre as várias histórias” contadas por Carlos de França Vilela, economista e Secretário de Fazenda do Município de Queimados, quando da realização da entrevista que nos concedeu gentilmente no dia 15 de abril de 2012. Com esse artigo, pretendemos retomar a rotina de publicações no blog, após um forçado hiato por conta das exigências de um mestrado acadêmico. Esse artigo também abre espaço para a ambição de inaugurar uma série de textos, que deverão ser escritos a partir da análise minuciosa das entrevistas realizadas com as lideranças da AAPQ (Associação dos Amigos para o Progresso de Queimados), que se tornaram a documentação básica para a realização da recente dissertação de mestrado, defendida pela Profª. Claudia Costa e orientada pela Profª. Drª. Marcia de Almeida Gonçalves, junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGH/UERJ).[1]
Ao nos debruçarmos, com o olhar do historiador, sobre a narrativa de vida de Carlos Vilela, identificamos que a família França Vilela se mudou para o Rio de Janeiro gradualmente. Segundo relato de Carlos Vilela, seu irmão mais velho, Waldir, foi o primeiro a vir para o Rio de Janeiro, com o objetivo de avançar nos estudos.  Depois, vieram suas irmãs e seu pai.  Por último, sua mãe e ele.  A família se estabeleceu inicialmente, no bairro de São Cristóvão - RJ.  Posteriormente, por intermédio do irmão Waldir, Carlos e a família moraram, sucessivamente, em São João de Meriti, Itaguaí, Japeri e, finalmente, Queimados. Da época em que chegou a Queimados, quando contava mais ou menos, 7 anos de idade, Carlos Vilela se recorda dos festejos do Centenário da Estrada de Ferro. No evento, que mobilizou vários segmentos da sociedade local, segundo nosso entrevistado, já se falava em emancipação. Porém, como ele próprio admite, tratou-se de uma iniciativa importante, ainda que embrionária.
Outro aspecto interessante, que marcou o final da década de 1950 de acordo com as memórias de Vilela, foi a fundação do Colégio Manoel Pereira, que se tornou, ao longo dos anos, uma referência no âmbito da Educação em Queimados. Foi nessa instituição que o Sr. Carlos deu início a sua educação básica. Dessa experiência, Carlos destaca a oportunidade de conviver com o professor Joaquim de Freitas que, além de fundador desse colégio, se dedicou à carreira política, tendo sido prefeito de Nova Iguaçu pela ARENA, nas décadas de 1960 (interventor em 1966) e 1970 (eleito, entre 1973-75).  A figura do professor Joaquim, se revelaria um grande referencial para o engajamento político que nosso entrevistado afirmou ter, desde a época de seus 17 anos.
Momento de emoção: o entrevistado relembra o
plebiscito frustrado de 1988...
Esse engajamento foi fundamental para sua participação no processo que culminou com a emancipação de Queimados. Com a reabertura política, ao final do Regime Militar Brasileiro, organizou-se em Queimados, o movimento que postulava a necessidade de autonomia político-administrativa para Queimados, diante do descaso das autoridades iguaçuanas para com o seu, então, Segundo Distrito. Essa primeira tentativa, frustrada pela insuficiência de quórum no plebiscito, marcado para julho de 1988 e que deveria decidir a criação do novo município, caiu como uma bomba sobre as cabeças que defendiam a emancipação. Entretanto, a subsequente promulgação da Constituição Federal de 1988, abriu brecha para que o movimento se reorganizasse: Queimados precisava aproveitar o momento de ênfase na defesa dos direitos e na cidadania para conseguir sua autonomia.   
Assim, como fez questão de ressaltar nosso entrevistado, contando com o apoio do, então deputado Paulo Duque, foi encaminhado à ALERJ, outro pedido para que fosse realizada nova consulta plebiscitária na região. Seguindo as orientações desse deputado, os limites do novo município deveriam ser reformulados, excluindo-se regiões como Cabuçu, Engenheiro Pedreira e Japeri: de acordo com Duque, era melhor emancipar um município menor em extensão territorial, mas com maiores possibilidades de desenvolvimento. Foi a partir das orientações desse deputado, que a Associação dos Amigos pra o Progresso de Queimados (AAPQ) também foi criada, como entidade que corporificou os anseios emancipacionistas. A nova tentativa emancipacionista também contou com a assessoria jurídica disponibilizada pelo irmão de Carlos, Waldir, que, por meio das Faculdades ABEU, instituição de ensino superior por ele fundada, já havia adquirido experiência na emancipação de Belford Roxo.
 Carlos Vilela explica, segundo suas memórias, como se deu a tramitação da 
segunda tentativa de emancipação de Queimados: participação 
decisiva do deputado Paulo Duque. 
Assim, o momento político vivenciado pelo Brasil e pelo estado do Rio de Janeiro, assim como a mobilização popular organizada em Queimados foram ingredientes fundamentais para o sucesso do projeto emancipacionistas. Ouvir, registrar e analisar as memórias de lideranças da emancipação, como Carlos Vilela, faz com que as possibilidades de escrever a história desse jovem município sejam muito profícuas.

______________________________________
[1] COSTA, Claudia Patrícia de O.. Nas disputas das memórias: um estudo sobre narrativas acerca da emancipação do município de Queimados – RJ, na passagem dos séculos XX ao XXI.  Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014.