domingo, 22 de maio de 2011

Memórias dos gramados: José Cocão e Jair Borracha nos falam sobre o Queimados Futebol Clube

Jair dos Santos, o "Jair Borracha" e José Cocão:
histórias do Queimados Futebol Clube.
Tarde de sábado, sol e temperatura amena de outono.  Fomos até o bairro de São Roque, outrora extenso laranjal, para um bate papo animado sobre o futebol e Queimados.  Demonstrando ser uma dupla afinada dentro e fora das quatro linhas, José Cocão e Jair dos Santos, mais conhecido como "Jair Borracha," rememoraram infância e juventude em Queimados e a relação de amor mantida com o Queimados Futebol Clube, onde ambos jogaram e Cocão foi presidente.
José Cocão apresentou-se, falando um pouco sobre sua infância em Queimados.  Nascido em Carangola, Minas Gerais, veio com a família para Queimados, em meados da década de 1940, quando contava apenas três anos de idade, a fim de "melhorar de vida", nos seus dizeres.  Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o declínio gradual da citricultura em Nova Iguaçu, da qual Queimados era o Segundo Distrito, começava o loteamento das fazendas que iam à falência, dando início ao processo de urbanização da região.  Da infância "humilde, porém feliz", como ele mesmo garantiu em vários momentos da entrevista, restaram boas recordações: o trabalho na colheita das laranjas na Fazenda do Dr. Weimschenk (Fanchém), na olaria, no barracão de beneficiamento das laranjas e como limpador de cana, na lanchonete do Café Central.   No decorrer de sua fala, começamos a resgatar, ainda que mentalmente, a arqueologia da cidade: segundo nosso entrevistado, a olaria em que trabalhou situava-se em um morro, que ainda hoje traz as marcas do desgaste causado pela extração da tabatinga, próximo ao Supermercado Extra (antiga Sendas).  O referido supermercado, por sua vez, era o local onde funcionava o barracão de beneficiamento das laranjas.  Quanto ao Café Central, ele ficava próximo à Praça N.Srª. da Conceição, onde hoje é a Peixaria do Hipólito.      
Nossos entrevistados vão conduzindo "a bola"
com desenvoltura, numa tabelinha perfeita.
 Um pouco mais novo que Cocão, Jair Borracha nasceu em Queimados, em uma época em que as crianças vinham ao mundo em casa, pelas mãos de experientes parteiras.  Ele ainda traz na memória, lembranças de algumas chácaras remanescentes dos grandes laranjais de Queimados, nos permitindo entrever que sua infância e adolescência acompanharam o desenvolvimento urbano do local.  A paixão pelo futebol fortaleceu a amizade entre eles, na medida em que parte significativa de suas vidas foi dedicada ao Queimados Futebol Clube, fundado ainda na década de 1920.  Juntos, nossos entrevistados rememoraram uma "época de ouro" do futebol queimadense, entre as décadas de 1960/70, quando o time do Queimados F.C. conquistou vários campeonatos da liga local.
Durante esse bate-papo, José Cocão enfatizou a importância do clube como espaço de convivência e inserção social na comunidade queimadense.  A ideia que ambos nos passam é a de que o Queimados F. C., no passado, funcionava como uma grande família, baseada em laços de apoio e confiança, passando por cima das desigualdades sociais.  Sob esse aspecto, percebemos a construção de sentimentos identitários que agregaram os queimadenses e que, posteriormente, foram fundamentais na luta pela emancipação.  Cocão e Borracha lamentam que essa característica do clube esteja se diluindo com o passar dos anos, o que para nós, evidencia a perda de um lugar que seja referência na memória da cidade...
No contexto dessa aparente luta entre passado, presente e futuro, José Cocão e Jair Borracha admitem que o progresso é inevitável e que, nesse sentido, muito tem sido feito nos últimos anos para que a cidade se desenvolva.  Porém, eles nos chamam a atenção para o fato de que a História está ali, viva em cada cidade, bairro ou esquina e não deve ser esquecida.  Nesse sentido, vamos além: admitimos que a História é uma construção permanente e coletiva, sendo portanto, importantíssima a sua compreensão e valorização a fim de que possamos entender quem somos e por que estamos...

Foto final da "partida": Prof. Nilson, Jair Borracha,
José Cocão e Profª. Claudia.


Para ver mais fotos* desse encontro, clique aqui!


* Crédito das fotografias dessa entrevista: João Batista

terça-feira, 3 de maio de 2011

CEPEMHEd promove o curso "Escola, lugar de memória, pesquisa e experiências em educação patrimonial."

O Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação da cidade de Duque de Caxias e Baixada Fluminense (CEPEMHEd) está promovendo o curso Escola: lugar de memória, pesquisa e experiências em educação patrimonial, voltado para professores, pesquisadores e demais interessados nessa temática.  Segundo a ementa "o curso visa à reflexão e vivência de esperiências em educação patrimonial no mundo da escola (...). Os estudos propõem que o patrimônio histórico-educativo e o patrimônio local entrelacem a formação docente a partir do trabalho com a Memória, a História Oral e a Fotografia como fonte histórica."
O curso terá a duração de 40h, distribuídas ao longo de oito encontros mensais, sempre às quartas-feiras, das 13 às 17h.  O primeiro encontro, ocorrido em 30 de março, contou com a presença do professor convidado Tarcísio Motta, que debateu com o grupo, a "noção de experiência em Edward P. Thompson."  No segundo encontro, em 27 de abril, o grupo foi acolhido na Escola Dr. Álvaro Alberto, onde a professora convidada Vilma Amancio discorreu sobre a iniciativa pioneira da professora Armanda Álvaro Alberto, fundadora da Escola Proletária de Merity, conhecida popularmente como "mate com angu", em alusão à refeição servida aos alunos da escola, fruto das doações arrecadadas pela incansável professora Armanda.  Hoje, a "mate com angu" é a Escola Dr. Álvaro Alberto, batizada assim, em homenagem ao pai da professora Armanda.
A questão do resgate das memórias e do Patrimônio Histórico da Educação em Duque de Caxias, experiência que é ponto de partida desse curso do CEPEMHEd, é também ponto importantíssimo para a discussão do resgate e preservação do Patrimônio Histórico em um sentido mais amplo: aquele que abrange toda a Baixada Fluminense.  Com o projeto Encontros e Conexões: [re]descobrindo histórias, pretendemos levar um pouco dessa discussão a Queimados e promover a reflexão e consciência de que a História Local é feita por gente como a gente: basta apenas vontade para resgatarmos essa história e a valorizarmos!

 
Cursistas reunidos no encontro na
Escola Dr. Álvaro Alberto
No pátio da escola, a profª. Vilma fala sobre a
fundação da "Mate com Angu."
















Equipe do CEPEMHEd, professora Vilma Amancio,
professores Nilson Henrique e Claudia Costa,
do blog Memória Queimados.



















OBS.: O curso do CEPEMHEd oferece declaração para abono de ponto e certificado de conclusão. O próximo encontro, a ser realizado no Instituto de Educação Governador Roberto Silveira, em Duque de Caxias (que abriga a sede provisória do CEPEMHEd), terá como tema "A fotografia como fonte histórica." Maiores informações pelo telefone (21) 2671-3725 ramal 26 ou centrodememoriadaeducacao@gmail.com . Visite também o site do CEPEMHEd: http://www.centrodememoriadaeducacao.com.br/.