terça-feira, 6 de março de 2018

QUEIMADOS - UM NOME QUE ANTECEDE O MONARCA


Pátio da Estação de Queimados - 1932 
(Morro de Cruzeiro ao fundo)
Muitos alunos e amigos têm nos perguntado, curiosos, sobre a origem do nome do nosso município. Ouvimos, inclusive, muitos afirmarem que o nome “Queimados” foi dado à cidade pelo próprio imperador Dom Pedro II, quando, em 29 de março de 1858, visitou estas paragens para inauguração da estação ferroviária. É óbvio que Queimados, nesse período de sua história, não passava de um pequeno povoado da freguesia de Nossa Senhora de Marapicu. Contudo, é importante dizer que há muito de ufanismo em uma hipótese que não resiste a mais precária pesquisa histórica.


Durante os últimos anos da década de 1950, Queimados foi marcado pelo início de seu processo emancipatório, pois, pela primeira vez, ergueram-se vozes a favor da independência política do segundo distrito de Nova Iguaçu. Coincidentemente, é nessa mesma época que começam a circular pela região relatos que dão conta de Dom Pedro II como sendo o suposto autor do nome Queimados. Isso nos faz crer que, para reforçar um discurso pró-emancipação e criar uma memória capaz fortalecer os laços de identidade dos moradores de uma localidade que se pretendia emancipar, seria interessante dar a este pequeno torrão da Baixada Fluminense um passado glorioso. E o que haveria de melhor do que ligar a história de um pequeno distrito à figura mítica de nosso imperador? No entanto, quais argumentos seriam capazes de jogar para escanteio o nosso mui amado monarca? Simples! Dois fatos que nos ajudarão a lançar luzes sobre este propalado mito da origem do nome de nossa cidade. 
Dom Pedro II - década de 1850

Que Dom Pedro II esteve em Queimados em 1858, ninguém duvida. Mas, daí dizer que ele se inspirou numa queimada para nomear um lugarejo não se sustenta, visto que um mapa datado de 1851, de propriedade do Engenheiro Camilo Maria de Menezes - portanto, 7 anos antes de sua visita - nos dá conta de pontos assinalados com os nomes "Pouso dos Queimados", "Rio dos Queimados" e "Caminho dos Queimados". Sendo assim, Dom Pedro não poderia ter criado um nome que, segundo consta em documento, já existia.

Cristiano Benedito Ottoni
A propósito, antes que alguém nos pergunte o que a imagem de um simpático e tão aristocrático velhinho tem a ver com toda essa história, vamos logo dizendo que ele é a peça-chave de um segundo argumento que, esperamos, possa encerrar de vez essa pequena controvérsia gerada em torno da origem do nome "Queimados". Então, quem seria este ilustre desconhecido? Ora! Antes de mais nada, é preciso dizer que ele não é uma figura tão desconhecida assim.

É provável que até mesmo o mais apressado dos passageiros, que dependem todos os dias dos trens da SuperVia, já tenha percebido, ao cruzar o hall do monumental Edifício Central do Brasil, que ali existem diversos bustos, esculpidos em bronze, de personagens ligados ao início do desenvolvimento do transporte ferroviário no Brasil. Um desses bustos é o do engenheiro Cristiano Benedito Ottoni, considerado o “pai das estradas de ferro” no Brasil. Ottoni, além de engenheiro, foi capitão-tenente da marinha, professor de matemática, primeiro diretor da Estrada de Ferro Dom Pedro II e político influente, tendo sido investido do mandato de senador do Império e também da República. Cristiano Ottoni tem seu nome ligado a uma época em que as ferrovias eram o principal símbolo de modernização econômica e social do país, tendo a construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II sua maior expressão durante a segunda metade do século XIX.

Dito isso, acreditamos que todos já tenham percebido a importância de nosso simpático senhor para a história do Brasil, faltando, contudo, explicar de que maneira tal figura passa a se relacionar à história de nosso município.

À medida que a construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II avançava rumo à conclusão de seu primeiro trecho em 1858, ligando as estações de Campo e Belém (atuais Central do Brasil e Japeri, respectivamente), inúmeras outras estações e paradas iam sendo construídas e posteriormente inauguradas. Os nomes que foram dados a estas estações seguiam uma lógica muito peculiar de homenagens, onde engenheiros que participaram de suas construções, fazendeiros que cediam parte de suas terras para a passagem dos trilhos e, até mesmo, antigas fazendas que eram cortadas pelas locomotivas iam tendo seus nomes imortalizados: Morro Agudo (fazenda de propriedade do COMENDADOR Francisco José SOARES), Jeronymo José de MESQUITA (fazendeiro e 1º Barão de Mesquita), Eng. PEDREIRA, Eng. Charles AUSTIN, Eng. Neiva (nome substituído por Nilópolis em 1921).

Mas e Queimados? Em qual dessas possibilidades podemos enquadrar a origem de seu nome? Queimados, obviamente, não era o nome de um engenheiro, de um proprietário de terras ou, muito menos, o nome de uma antiga fazenda. É exatamente por isso que a nossa estação foi inaugurada, em 1858, com o nome OTTONI, em homenagem ao ilustre Engenheiro Cristiano Benedito Ottoni. Contudo, 62 anos depois, em 1920, a antiga estação Ottoni passa a se chamar Queimados, não tendo resistido à força de um nome que, muito antes da chegada dos trilhos, já havia se sedimentado na memória popular.

Sendo assim, amigos, esperamos ter ajudado a desvendar um mito que há muito tem sido motivo de debates e curiosos questionamentos entre nós, queimadenses.

Estação de Queimados - 2014 (Morro do Cruzeiro ao fundo)


Texto originalmente publicado no site www.portaldequeimados-rj.com.br, sob o título "Queimados - Mitos e Verdades"








domingo, 26 de abril de 2015

IX Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História e IV Encontro Internacional do Ensino de História: começando os eventos do ano de 2015!

Chegando ao local do evento, na companhia da
professora Juçara Mello (LEEHPaC/PUC-Rio)
Retomar a agenda de eventos, ao iniciar um ano, traz sempre novidades e um novo fôlego para as pesquisas. Nesse caso em específico, as expectativas eram enormes pois, tratou-se de expor ao debate uma nova pesquisa, inscrita no âmbito do Ensino de História Local e que acaba de ser aprovada pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP/UERJ). Imbuída desse desafio, estive nos IX Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História e IV Encontro Internacional do Ensino de História, realizado entre os dias 19 e 21 de abril de 2015, pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG), participando das discussões do grupo "Cartografia(s) da(s) memória(s) sensíveis na/da cidade(s)", coordenado pelos professores Lana Mara de Castro Siman e Lívia Torres Cabral (UEMG) e João Carlos Ribeiro de Andrade (Rede Municipal de Betim). 
A proposta democrática e plural do GD se evidenciava na filiação institucional de seus coordenadores, mesclando saberes construídos na universidade e a prática na Educação Básica, não se restringindo à área de história. A composição dos inscritos também evidenciava a proposta do grupo de discussão, ao abrir espaço para a participação de
Os coordenadores do GD: da
esq. para a dir., professores Lana,
Lívia e João Carlos.
pesquisadores graduandos ou recém-graduados a doutores e pós-doutores com pesquisas referenciais na área.  Por fim, o formato adotado pelo evento trouxe inovação, na medida em que não houve a apresentação individual de trabalhos. Os coordenadores de cada GD elaboraram um texto referência/síntese de todos os trabalhos inscritos. Esse texto foi o norteador das discussões e foi disponibilizado no site e no Caderno de Programação e Resumos, que todos os participantes receberam quando do credenciamento.
Assim, entre os dias 19 e 20, nosso grupo debateu as potencialidades de iniciativas fundadas nos rastros de memórias marcados em diversos suportes da cidade. Nessa perspectiva, interessava-me discutir as contribuições possíveis de uma análise historiográfica da cidade para o ensino da história local. Dentre os trabalhos inscritos no GD, a pesquisa do mestrando Rafael Nascimento da Silva, da Universidade Estadual de Londrina, chamou a atenção por propor a análise da emancipação política do município de Tamarana, que se desmembrou de Londrina na década de 1990. Ao ouvir a exposição do pesquisador, pude refletir um pouco mais sobre as escolhas teóricas da pesquisa e pudemos compartilhar impressões, angústias e bibliografias referenciais, uma vez que podemos inserir no mesmo contexto, as emancipações políticas de Tamarana e Queimados.
Ao final do evento, a sensação de dever cumprido, advinda das trocas oportunizadas pelo contato com pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no âmbito do ensino de história por pesquisadores estabelecidos em diversas instituições do Brasil e América do Sul. 
Sensação do dever cumprido!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Lançamento do livro "Queimados: imagens de uma cidade em construção"

Queimadenses, de nascimento ou não, lotam a quadra do
Centro Educacional Manuel Pereira à espera do
lançamento do livro "Queimados: imagens
de uma cidade em construção."
 
Nem mesmo a chuva que desabou sobre Queimados, ao fim da tarde de ontem, arrefeceu o ânimo das pessoas que encheram a quadra de esportes do Centro Educacional Manuel Pereira, depositando grande expectativa no lançamento do livro "Queimados: imagens de uma cidade em construção." Para nós, mais do que a expectativa pela publicação do primeiro livro, a emoção de um dever cumprido para com aqueles que nos apoiaram e incentivaram, nessa luta por dar voz e registro às memórias da cidade. Em Queimados, esse desafio se configurou ainda maior, dado o fato de que a cidade ainda não conta com um local específico para guarda e preservação de documentos que pudessem servir como fontes de pesquisa para a escrita da história da cidade. 
Sob essa perspectiva, nesse dia tão especial, trouxemos a público nosso primeiro livro! Ao
Então: vamos aos autógrafos!
longo de quase 200 páginas, um pouco da história local se mescla aos registros fotográficos de pessoas que fizeram e fazem essa história continuamente. Esses registros - cedidos por várias famílias queimadenses e outros tantos garimpados em arquivos públicos e privados da Baixada Fluminense e Rio de Janeiro - foram organizados em três grupos:
nossa terra, nossa gente e nossa luta. No primeiro, encontram-se fotografias que registram a passagem do tempo nos lugares da cidade. Ruas, praças, igrejas, a estação do trem... Um convite à uma viagem no tempo pela cidade que sobrevive nas memórias dos moradores mais antigos. Sob o subtítulo nossa gente, foram agrupados os registros que dão conta das práticas cotidianas que perpassam o viver em Queimados: as festas, o trabalho, o lazer, a religiosidade... Por último, o tópico nossa luta traz imagens que dizem respeito aos protestos em busca de melhorias para Queimados, incluindo-se fotografias que registraram a gênese do movimento emancipacionista.
Convidamos a todos para embarcar nessa viagem conosco e conhecer um pouco mais de nossa história!
Com o livro em mãos.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Lançamento do livro "Queimados - imagens de uma cidade em construção"


É com grande prazer que convidamos vocês para o lançamento do nosso tão aguardado livro "Queimados - imagens de uma cidade em construção"



O livro traz uma coletânea de fotografias, cedidas gentilmente por famílias queimadenses, que registram olhares sobre uma cidade em permanente construção: suas memórias, lugares e práticas que compõem um mosaico da Queimados de hoje e que traduzem a luta cotidiana dos queimadenses contra o esquecimento. As imagens são acompanhadas de texto que visa dar ao leitor um panorama sucinto do desenvolvimento da cidade, mesmo antes da conquista de sua emancipação política, em 1990.
Esperamos todos vocês às 19h do dia 13/12/2014, no Centro Educacional Manuel Pereira, para compartilhar conosco esse momento!

sábado, 6 de setembro de 2014

Seminário Brasileiro de História da Historiografia: pensando as interações possíveis entre memória e ensino de história na cidade

Entre os dias 18 e 21 de agosto de 2014 ocorreu, na Universidade Federal de Ouro Preto - campus Mariana, o 8º Seminário Brasileiro de História da Historiografia, cujo tema dessa edição foi "Variedades do discurso histórico: possibilidades para além do texto." O evento, mais uma vez, oportunizou os debates entre pesquisadores vinculados à diversas instituições do país, como também trouxe contribuições de fora do país, como pudemos conferir por meio das conferências e palestras proferidas pelos professores Hans-Ulrich Gumbrecht (Universidade de Stanford), Hugo Achugar (Diretoria Nacional de Cultura do Uruguai), Jens Andermann (Universidade de Zurique), Antonis Liakos (Universidade de Atenas), Berber Bevernage (Universidade de Gent), Edoardo Tortarolo (Universidade do Piemonte Orientale), Elías José Palti (Universidade Nacional de Quilmes / Universidade Nacional de Buenos Aires) e Stefan Berger (Ruhr-Universidade de Bochum).
A professora Claudia expõe suas reflexões acerca do 
estudo das memórias e possibilidades para o 
ensino de história.
Com trabalho inscrito no Simpósio Temático 16 - Cultura histórica, história local e cidades: questões para a escrita e o ensino da história, coordenado pelos professores Daniel Pinha (UERJ) e Juçara Mello (PUC-Rio), a professora Claudia Costa apresentou sua comunicação, intitulada "Memória, Patrimônio Cultural e Ensino de História: discursos possíveis sobre a cidade de Queimados", na terça-feira, dia 19. O trabalho apresentado é parte das reflexões esboçadas pela pesquisadora ao final de sua dissertação de mestrado, defendida esse ano junto ao Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. No decorrer de sua fala, a professora Claudia destacou os pontos de intersecção identificados entre as memórias queimadenses e as possibilidades de escrita da história dessa cidade, aspectos trabalhados em sua dissertação. Ao ampliar essa perspectiva, a professora Claudia também aponta o potencial educativo das memórias como forma de ampliar os recursos para uma didática da história local. Tal perspectiva alça, para o primeiro plano dos debates, a cidade enquanto espaço de investigação, onde as experiências nela vividas fazem parte de um processo educativo que extrapola os limites das salas de aula ou mesmo da escola. 
Completando esse dia de profícuos debates, as professoras Juçara Melo e Iamara Viana apresentaram os resultados parciais do trabalho implementado junto ao Instituto de Educação Carmela Dutra, em Madureira. Esse trabalho integra o projeto sobre Patrimônio Cultural e Ensino de História, coordenado pela professora Juçara Mello, através do Núcleo de Estudos em Ensino de História e Patrimônio Cultural, que pertence ao Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Esse projeto visa à integração do corpo docente e discente da referida unidade de ensino da rede estadual, promovendo reflexões sobre os significados, reconhecimento, usos e apropriações do Patrimônio Cultural do bairro de Madureira. Fechando a mesa de debates, a pesquisadora Danielle Cavalcante apresentou contribuições para o ensino de história a partir da experiência do Museu de Arte e História Rosa Faria, em Sergipe.
Professoras Iamara e Juçara 
(ambas da PUC-Rio):
projeto sobre Educação e
Patrimônio Cultural
Professoras Iamara e Juçara expõem 
 os resultados parciais, obtidos 
nas ações junto aos professores 
e alunos do I.E. Carmela Dutra.













Os demais dias de simpósio foram igualmente enriquecedores, com a apresentação de trabalhos que levaram em conta as interfaces estabelecidas entre os diversos tipos de objetos e práticas passíveis de patrimonialização e sua dimensão educativa. Por meio desses trabalhos, aguçamos nossa percepção acerca do polêmico tema da patrimonialização cultural, que vem ocupando grande espaço nos debates acadêmicos e não acadêmicos nas últimas décadas. Material ou imaterial, tangível ou intangível, percebemos que as questões que envolvem esse debate estão postas em diversos espaços: nas memórias, nos museus, nos bares, nas imagens...
Apresentação da professora
Beatriz Vieira (UERJ).
Professor Daniel Pinha (UERJ):
trabalho sobre Museu Itinerante
de Manguinhos











Professora Helena Araújo (CAp/UERJ)
aborda "A dimensão educativa do
Museu da Maré."